Nilson Zille é o co-piloto do voo 254 da Varig. A aeronave fez um pouso forçado em pleno breu amazônico Amazônia no dia 3 de Setembro de 1989.
O piloto Garcez, hoje sabidamente o principal culpado omisso, deixou a história mal contada e sumiu. Ninguém mais consegue falar com ele e, infelizmente, não temos seus dados natais. Aqui, nesta análise, ele não importa muito.
O Zille, por outro lado, encarou as coisas de maneira diferente. E contou a mesma história várias vezes ao longo de décadas, para várias fontes, sem alterar uma única vírgula em seu relato
O homem é um livro aberto. E sua sinceridade me fez sentir a oportunidade para pedir seus dados natais e uma autorização para escrever este texto.
Atenção 🚨
Como eu já disse em outras publicações, o mapa natal é um conjunto de símbolos que mostram as possibilidades gerais daquela vida.
Ele NÃO condena ninguém a nada, e existe uma grande margem de manobra para todos; mas tudo o que PODE acontecer está ali, dentro da semente.
Isso dependerá das circunstâncias: a criação, a educação, a sorte e, acima de tudo, as escolhas.
Por uns dois meses, fiquei com essa história na cabeça mas não escrevi o texto. Até que há dois dias um amigo meu, o Cassiano, me encorajou a fazê-lo.
Eu não vou contar a história do Voo 254.
Ouça-a do boca do próprio Zille:
https://www.youtube.com/watch?v=VXoodj6aybY
Assiste aí para se inteirar da história antes de seguir a leitura.
Esse episódio é claramente o mais importante da vida do Nilson.
A partir daquele dia, ele passou vários dias na floresta com fome e sede, teve que se explicar para a justiça, foi questionado por repórteres e escreveu um livro sobre o assunto.
Eu ainda não li o livro, mas vou analisar o mapa com as informações que já tenho, mais que suficientes.
Vou começar pela superfície.
O primeiro passo é ver, de cara, qual parte do mapa chama a atenção. A partir deste foco, vamos cavando e analisando os planetas envolvidos.
A primeira coisa que salta à vista são os quatro planetas na Casa 10, significadora da carreira, da imagem pública.
A Casa 10 é o Meio do Céu, isto é, a parte mais visível aos outros. Por isso significa esse assunto da vida.
Por conter quatro dos sete planetas, ela já se mostra importante logo de cara. Vamos investigá-la.
ATENÇÃO:
Todos sabemos que o Sol é uma estrela.
Contudo, na Astrologia, tudo o que se movimenta independentemente do plano de fundo (onde estão as estrelas) é um errante e, portanto, um planeta.
Entre os quatro planetas dentro da Casa 10, Marte chama a atenção por dois motivos:
1- Ele rege a Casa 10. Ou seja, ele em si significa a carreira, a imagem pública.
2 - Ele está a poucos minutos de sair de Escorpião, seu domicílio. Ele está perdendo dignidade e entrando em Sagitário. Guarde esta informação.
Na vida pessoal do Nilson, isso se refletiu em sua breve carreira como piloto; após o acidente, ele nunca mais pilotou.
Obs: NÃO quero misturar a linguagem astrológica com juízos de valores e opiniões pessoais.
Quem está prestes a perder a dignidade é Marte, e não o Zille.
Este termo técnico não diz NADA de positivo ou negativo sobre a pessoa dele. Mas o símbolo está aí, e foi assim que ele se desdobrou.
Esse símbolo poderia ter se desdobrado de várias maneiras.
Isso ainda não é tudo. A Casa 10 já se mostrou importante.
Vamos nos aprofundar nela.
Na cúspide da Casa 10, está Zuben Elgenubi, uma estrela no prato sul de Libra.
Esta estrela dá, portanto, o tom da Casa 10, colorindo os assuntos a ela relacionados (mais uma vez, a carreira e a imagem pública).
O prato Sul, por estar em baixo, é aquele que se eleva.
Tudo o que está embaixo sobe.
Conta o número das estrelas, chama-as a todas pelos seus nomes.
Grande é o nosso Senhor, e de grande poder; o seu entendimento é infinito.
O Senhor eleva os humildes, e abate os ímpios até à terra.
Salmos 147:4-6
Marte (lembre-se que ele significa a carreira), por sua vez, está conjunto à estrela Toliman, a pata esquerda do centauro. Pela natureza do bicho e por sua posição, ela está ligada à tomada de ações enérgicas, arriscadas, no mundo concreto.
O centauro é a imagem de uma criatura com a inteligência de um homem e a força de um animal, avançando.
Um dos pontos de virada da história é quando o piloto, já acreditando na morte, admite o erro, desiste e começa a se despedir:
"Desculpa, velho. Eu causei tudo isso. Te vejo do outro lado da vida."
A partir daí, o Nilson começou a contestar o comandante:
"Do outro lado da vida é uma pinóia! Nós vamos pousar esse avião! Eu tenho certeza que vai dar certo! Nós vamos empinar o bico do avião para que as árvores o segurem, vamos entrar de bunda e ainda vamos dar risada disso um dia!"
Foi uma atitude enérgica, não?
A estrela não causa nada. Ela apenas simboliza.
E a história mitológica por trás dela dá o tom, a coloração da hisória.
"Eu fui tomado por uma certeza de vida. Mas certeza, certeza mesmo. Simplesmente contestei o comandante em tudo!"
Enquanto o avião descia sem motores, Zille foi encomendar sua alma para Jesus, pedindo para ser perdoado, não sentir dor e ser recebido por alguém do outro lado.
A fé, é inegável, teve um papel fundamental neste momento.
Pessoalmente, eu tenho certeza de que Deus colocou a mão e os salvou, mas isso não entra em jogo na análise. Eu mesmo sou católico, mas aqui a razão ainda dá conta de entender a situação.
A CASA 9
Esta casa é importante porque Spica, a estrela mais benéfica do céu, está conjunta ao seu regente.
A Casa 9 significa, na vida do nativo, as viagens longas, a religião, a fé, os conhecimentos especializados (como os necessários para se pilotar uma aeronave).
No mapa do Nilson, a Casa 9 é regida por Vênus. Este planeta, por sua vez, está conjunto a Spica, a estrela mais benéfica do céu.
Ela representa o espigão segurado pela virgem, e significa proteção, a garantia de que tudo dará certo.
Pense em uma espiga.
É a mesma imagem de um avião cuidadosamente podado de suas asas envolto por árvores verdes, a salvo.
Os mistérios do universo são insondáveis, e os céus atestam a Glória de Deus.
"Jesus encaixou o charuto do avião no meio da selva amazônica”
A Progressão do mapa para o dia do acidente:
Relacionando o mapa natal com a progressão:
Na Progressão do mapa natal do Zille para o dia do acidente, Vênus estava conjunta justamente ao Marte natal, o regente da carreira.
Traduzindo, é como se ela estivesse fazendo um ponto de contato com Marte, o ressaltando.
Ele se torna importante naquele período. Isso indica, portanto, que algo importante envolvendo a carreira pode ocorrer.
Vamos ver alguns personagens envolvidos neste teatro celestial:
A Lua rege a Casa 6 (ela significa, entre outras coisas, acidentes).
Saturno, por sua vez, rege o ascendente (o corpo do nativo).
Na data do acidente, como pode ser visto no gráfico:
O Saturno progredido está conjunto à Lua natal.
A Lua progredida está cravada no ascendente.
Isso também é um indicativo do risco de acidentes, ou no mínimo de uma preocupação excessiva com acidentes no período.
A última revolucão solar antes do ocorrido.
Assim como o mapa natal mostra as possibilidades da vida, a revolução solar mostra as possibilidades daquele ano em questão.
Aqui, o caldo engrossa.
Procurei prezar a narrativa em detrimento do astrologuês, mas tem hora que não dá.
A estrutura da realidade e da vida são complexas; o mapa, por consequência, não seria simples. Um dia, quando alguém entendido em Astrologia ler isto, esta pessoa saberá que eu não tirei nada da cartola.
Vejamos a revolução solar.
Para tal, abri o mapa do último aniversário do Nilson Zille antes do acidente, e o ajustei até o Sol ficar no mesmo exato grau do nascimento. Este mapa também é interessante, principalmente porque hoje já sabemos como a história se desenrolou.
Na Revolucão Solar de 1988, há um grande testemunho de mudança:
A estrela Antares, o coração do escorpião, está exatamente conjunta ao Sol.
Ela começa a ascender pela manhã no início da Primavera.
Isso significa que Antares marca exatamente o Equinócio de Primavera.
Por isso, essa estrela simboliza o fim de um ciclo e o início de outro.
Nesse caso, esse testemunho parece simbolizar o desligamento do Nilson da VARIG, após o acidente, e o início de uma nova fase mais difícil.
Ainda na revolução solar, Algol, a cabeça decepada da Medusa, está no fundo do céu, a Casa 4. É a estrela mais maléfica do céu, ligada à morte.
É interessante notar que o fundo do céu é o ponto mais baixo do mapa. Em nosso contexto, envolvendo pilotos e uma aeronave, ele parece simbolizar "lá embaixo", em oposição a "no céu".
A morte lá embaixo.
De fato, infelizmente algumas pessoas perderam a vida no acidente quando do pouso forçado.
De novo, a pata do centauro:
A estrela Toliman, da pata do centauro, já mencionada no mapa natal, aparece aqui de novo, desta vez conjunta a Marte, o regente da carreira.
Mais uma vez, ela parece denotar a súbita reação do Nilson perante o comandante nos últimos instantes. Não podemos negar que, dadas as circunstâncias, ele fez o necessário, e que isso não deixa de ter sido algo arriscado.
O Leão de Neemeia
Na cúspide da Casa 7, está Regulus, o coração do Leão. Um animal bonito, real, coroado com uma grande juba.
O rei da selva.
Esta estrela está ligada ao poder, à vontade de ter poder, e aos louros e riscos envolvidos nisso.
Regulus claramente dá o tom da postura do piloto.
Orgulhoso, no comando de tudo e dando ordens de cima para baixo, ele só admitiu o erro no último minuto. E já era tarde.
Se ele tivesse engolido antes a própria soberba e admitido o erro antes, mais vidas seriam salvas.
Como diria o Lito, mais um elo se fechou aqui.
Dificuldades em enxergar.
Para fechar o último elo, algumas estrelas ligadas à dificuldade em enxergar estão em destaque na revolução solar.
A estrela Alcyone, da nebulosa de Touro, está conjunta a Júpiter.
A estrela Spiculum, da nebulosa de Sagitário, está conjunta a Saturno.
Na Astrologia, o meu braço direito, ou aquele que está me ajudando em alguma situação é sempre significado pela Casa 2.
Traduzindo:
O Nilson é o regente do ascendente, Saturno.
O piloto é o regente da Casa 2, Júpiter.
E os dois estão ofuscados por nebulosas. Os dois com dificuldades em enxergar uma situação.
Touché.
Eles estavam em plena escuridão, no breu total da floresta amazônica. Além disso, houve a dificuldade em entender o novo sistema de marcações de navegação da VARIG, a raiz do acidente.
Você se lembra lá no comecinho quando eu disse que Marte estava saindo de Escorpião e entrando em Sagitário?
Sagitário é o domicílio de Júpiter. Quando entra ali, Marte fica sujeito a ele.
Assim como o Zille ficou sujeito ao piloto, no território dele.
Nestes mapas analisados, ainda há mais coisas saltando aos olhos e que poderiam ser comentadas, mas o texto já está com o triplo do tamanho que eu planejava.
Essa história, e principalmente o generoso relato do Zille, me marcou profundamente. Uma figurinha e tanto para se ter na imaginação.
Deixo meu respeito às vítimas, e um muito obrigado ao Nilson, por autorizar este post.
Júlio